F. Scott Fitzgerald: belo e maldito
Posted by Sofia Costa Lima on 2019-10-07 in Livrólicos | Leave a comment

“I am glad you are happy – but I never believe much in happiness. I never believe in misery either. Those are things you see on the stage or the screen or the printed page, they never really happen to you in life.“
— F. Scott Fitzgerald numa carta para a filha, Frances, datada de 8 de agosto de 1933
Francis Scott Key Fitzgerald, mais conhecido no mundo literário por F. Scott Fitzgerald, nasceu a 24 de setembro de 1896, em Saint Paul, no estado norte-americano do Minnesota. O nome foi uma homenagem a um primo distante, poeta, Francis Scott Key, que escreveu o poema que viria a ser adotado como hino nacional norte-americano.
O talento para a escrita manifestou-se cedo. Aos 13 anos publicou o seu primeiro conto, uma história de detetives, no jornal da escola. Ainda assim, a escola não era o seu forte. Foi expulso e teve de trocar de escola. Posteriormente, ingressou na Universidade de Princeton, onde escreveu vários artigos para a revista humorística da universidade, histórias para a revista literária e até guiões para musicais do Triangle Club, o clube de teatro da universidade.
O exército, Zelda e o primeiro livro
Também em Princeton a vida académica de Fitzgerald não correu bem. Em 1917, Scott, como era tratado em família, desistiu da universidade para se alistar no exército. Com a iminência de partir para a Europa, para combater na I Guerra Mundial, começou a trabalhar exaustivamente no seu primeiro romance, The Romantic Egoist.
No verão do ano seguinte, Fitzgerald conhece Zelda Sayre. Como se sabe agora, o escritor mantinha um registo autobiográfico muito detalhado. Neste registo, no mês de setembro de 1918, confessa que se apaixonou.
O Armistício de novembro de 1918 foi assinado mesmo antes de Scott Fitzgerald partir para a Europa. Apesar de ter pedido Zelda em casamento, ela recusou-se a casar até que ele conseguisse suportar financeiramente uma família. Com The Romantic Egoist rejeitado para publicação, Fitzgerald mudou-se para Nova Iorque, onde trabalhou em publicidade e escreveu alguns contos. Quando Zelda cancela o noivado, Scott muda-se para casa dos pais e reescreve o livro, mudando o título para This Side of Paradise, em português Este Lado do Paraíso.
Desta vez, conseguiu que o rascunho fosse aprovado. Com a notícia da publicação do livro, Zelda decide dar-lhe uma nova oportunidade. Os dois casam em Nova Iorque, uma semana depois do lançamento do livro, em 1920. No ano seguinte, têm a primeira e única filha, Frances Scott Fitzgerald.
A Era do Jazz, as extravagâncias e França
Com a publicação de This Side of Paradise, que se tornou um êxito, Scott e Zelda Fitzgerald tornaram-se celebridades em Nova-Iorque. O êxito literário trouxe dinheiro e fama e, com eles, começaram os excessos, e o escritor passou a beber cada vez mais.
Em 1922, Scott publica The Beautiful and The Damned. O livro – Belos e Malditos, na tradução portuguesa – pretendia ser uma sátira à Era do Jazz. Por esta altura, Fitzgerald sustentava-se maioritariamente através dos contos que ia publicando em vários jornais e revistas. No entanto, o estilo de vida que mantinha não era facilmente sustentável e era comum pedir empréstimos ao agente e ao editor.
Dois anos depois, em 1924, como muitos outros artistas fizeram, os Fitzgerald mudam-se para França. É lá que conhecem, entre outros, Ernest Hemingway. Zelda e Hemingway não tinham uma boa relação, mas entre os dois autores a relação era mais cordial. Num livro publicado com cartas de Hemingway, Ernest Hemingway Selected Letters 1917-1961, encontra-se mesmo uma carta dirigida a Fitzgerald. Nesta carta, Hemingway mostra desprezo por Zelda e incentiva o amigo a escrever: “Tudo o que nós somos é escritores e o que devemos fazer é escrever.“

O Malsucedido Gatsby, os problemas conjugais e a saúde mental de Zelda
Enquanto estava em França, Fitzgerald escreveu O Grande Gatsby. Embora este seja, hoje em dia, um marco da literatura, o mesmo não aconteceu em 1925, quando foi publicado. O último cheque de direitos de autor que recebeu relativamente a esta obra foi de apenas 13,13 dólares.
Por esta altura, a relação entre Scott e Zelda estava já numa fase complicada e instável. Em 1930, Zelda foi diagnosticada com esquizofrenia e esteve internada num sanatório na Suíça. Durante esse período, escreveu um romance autobiográfico, Save me the waltz. Scott não gostou do que leu e respondeu à letra, em 1934, com Tender is the Night.
Novamente, este livro não teve o êxito literário expectável e Fitzgerald refugiava-se cada vez mais no álcool. Com a saúde cada vez mais deteriorada, Zelda acabou por ser internada num hospital do estado da Carolina do Norte, em 1937. O escritor deixou tudo para trás e rumou a Hollywood, com o objetivo de tentar uma carreia de guionista.
Ainda começou o seu último romance, The Love of The Last Tycoon, mas, antes de poder terminá-lo, F. Scott Fitzgerald morreu, vítima de ataque cardíaco, a 21 de dezembro de 1940. Tinha 44 anos. Zelda viria a morrer oito anos depois, vítima de um incêndio que deflagrou no hospital onde estava internada.
O Legado de F. Scott Fitzgerald
A obra de Fitzgerald acabou por ser redescoberta depois da morte do escritor.
The Beautiful and Damned foi adaptado para cinema, em 1922, e O Grande Gatsby também ganhou vida no grande ecrã, ainda durante a vida de Fitzgerald, em 1926. No entanto, a maior parte das adaptações cinematográficas ocorreram postumamente.
The Last Time I Saw Paris, baseado no conto Babylon Revisited, tornou-se filme em 1854. Tender is the Night foi adaptado em 1962 e The Last Tycoon em 1976. O Grande Gatsby foi adaptado para cinema mais quatro vezes, em 1949, 1974, 2000 e, mais recentemente, em 2013, com Leonardo DiCaprio no papel de Jay Gatsby. O conto O Estranho Caso de Benjamin Button também foi adaptado para cinema, em 2008, com Brad Pitt no papel principal.
Hoje em dia, o nome F. Scott Fitzgerald é inevitável quando se fala dos grandes autores do século XX e os seus livros são constantemente citados para definir as décadas de 20 e de 30.
Na sepultura que partilha com Zelda, pode ler-se a última frase de O Grande Gatsby: “So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past.“
Fontes:
“The Curious Life of F. Scott Fitzgerald“, de Kate O’Connor;
“10 Things You Probably Didn’t Know About F. Scott Fitzgerald“.
